Como boa parte dos meus amigos, eu também cresci numa família imperfeita. Pessoas às vezes melindrosas, às vezes intolerantes e briguentas. Histórias dignas de telenovela com intrigas, traições, reconciliações, pequenos crimes, abandono, negligência - quase um microcosmo do nosso país, né?
Talvez a melhor lição que eu tirei disso tudo foi a de respeitar as fraquezas dos outros, principalmente quando se vai tomando consciência das suas próprias - centenas de fraquezas. Olhando mais de perto, é certo que se vai encontrar uma ou duas virtudezinhas cultivadas no meio dessa bagunça. Aprendi amar a cada um da maneira em que me foram apresentados durante a vida.
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Tenho minhas dúvidas mas, olhando agora, acho que meu pai sacou que eu estava fotografando...
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A gente envelhece. Acho que nunca vou conseguir uma foto espontânea de família com meus pais e irmãs reunidos. Meses atrás consegui capturar no celular, furtivamente, minha mãe, meu pai e eu na mesma imagem. Pura sorte. Fico feliz em saber que, apesar de todos os percalços, eles ainda se falam e se tratam com respeito nas poucas vezes em que se veem.
Sei que em todo mundo, o tempo todo, pessoas cometem certo tipo de "assassinato mental" contra aqueles que as ofenderam, mesmo com coisa boba, pequenas discordâncias, incompatibilidades. Mas, peraí, nem tudo é caso de vida ou morte.
Gosto de pensar que meus pais aprenderam, mesmo que a duras penas, essa lição importante: ver que, por trás dos deslizes, existe um ser humano que ainda vive e pode ser preservado assim nas suas lembranças.
Efetivamente os problemas de conduta dos outros não são seus problemas. Mas cabe só a você escolher os sentimentos que vai alimentar sobre alguém.