"Se for levado em consideração que, durante centenas de milhares de anos, o homem foi um animal acessível ao medo no supremo grau e que para ele tudo o que fosse repentino, inesperado, significava estar pronto a combater, talvez pronto a morrer, que mesmo mais tarde ainda, em regime de sociedade, toda a segurança repousava no esperado, na tradição em termos de opinião e de atividade, não devemos nos admirar que, diante de tudo que é súbito, inesperado, em palavras e em atos, quando se produz sem perigo nem dano, o homem fique aliviado, passe para o oposto do medo; o ficar trêmulo de medo, envolto em si próprio, se ergue rapidamente, se estende comodamente - o homem ri. É essa passagem de um medo momentâneo para um excesso de alegria de curta duração que se chama cômico. Pelo contrário, no fenômeno do trágico, o homem passa rapidamente de uma alegria excessiva e duradoura para um grande medo; mas, como entre os mortais, a grande alegria duradoura é muito mais rara que o motivo para ter medo, há muito mais cômico no mundo do que trágico; a gente ri muito mais vezes do que se comove."
Friedrich Nietzsche em "Humano, Demasiado Humano", 1878.
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